O MEU TROLL

Comecei a escrever as Caleidoscópicas em 2005, logo após a gravação do CD Beleza Roubada. As colunas seguiram até 2009 e foram publicadas primeiramente no site Screammyell, do jornalista Marcelo Costa seguindo depois para o portal IG. Caleidoscópicas acabou sendo publicada numa edição de autor e virou um livrinho em 2012. Agora, anos depois, retornam e não por acaso, logo após a finalização de Sob o Signo do amor, o meu novo trabalho autoral.   

Olhando em perspectiva observo o padrão síndrome do ninho vazio, aquele sentimento de desamparo logo após um filho ir para o mundo. Mais do que isso, me pego naquela urgência em traduzir, antes de tudo para mim mesma, o turbilhão de pensamentos e sensações que me atropela todos os dias.   

A velocidade das transformações e os acontecimentos exige reflexão e respostas construtivas. Antes de tudo para levarmos a vida na direção do desejo e não agirmos de forma impulsiva e reativa, falando ou fazendo coisas que não pensamos.   

Por isso resolver voltar a escrever as Caleidos. Não apenas para organizar os pensamentos, mas para ser mais responsável e menos leviana com assuntos que merecem atenção.   

Recentemente dei uma entrevista para um jornal do Ceará. Logo após viajei para fora do Brasil. Um querido amigo com quem tenho conversado sobre vários temas atuais me chamou a atenção. Na opinião dele, eu deveria me retratar publicamente.  Pensando sobre o tema concluí:  a declaração, embora não falasse nada demais, nem ofendesse ninguém, era simplória, preguiçosa e desrespeitosa em relação ao tema.   

Perguntada sobre como eu via o feminismo hoje em dia, a forma como ele se manifestava, respondi que achava tudo muito chato e que pensava como Antônio Risério e as feministas da velha guarda.   

Ora, o que exatamente eu queria dizer era que não estava com menor paciência para explicar nada. Por pura preguiça de mergulhar no tema.   

Voltamos a conversar, e é um pouco por causa disso que resolvi, não me retratar, mas produzir uma resposta respeitosa e a altura.   

Por conta disso, também resolvi hibernar do Facebook, para evitar que o meu troll, reativo e destrutivo emita opiniões rasas e sem consistência. Acho que a configuração do aplicativo estimula isso em nós. Eu não sou essa pessoa, mas posso me tornar dentro de um ambiente que me captura. Com a proximidade das eleições e a elevação do tom das disputas narrativas senti que poderia cair nesse tipo de cilada por impulsividade. Eu não temo perder público ou seguidores. Não quero é perder amigos. Também não quero ficar em cima do muro, me omitir ou deixar de participar do debate sobre as questões nacionais e contemporâneas. Mas escolhi fazer isso por aqui, onde posso colocar minhas virgulas e interrogações e fugir do comportamento reativo e passional que não respeita o tempo do pensamento.   

Na próxima coluna: a deriva identitária

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